Acesse:

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Docente da UnG fala sobre causas e efeitos da meningite

Vânia Nardo diz que há um alerta sobre um possível surto da doença no município de São Paulo. Saiba como se precaver
Portal UnG (12/02/2008) – A doença meningocócica é uma infecção bacteriana aguda, rapidamente fatal, causada pela Neisseria meningitidis. Essa bactéria pode causar inflamação nas membranas que revestem o sistema nervoso central (meningite) e infecção generalizada (meningococcemia). Existem 13 sorogrupos identificados de N. meningitidis, porém, os que mais freqüentemente causam a doença são: A, B, C, Y e o W135.

Estima-se a ocorrência de pelo menos 500 mil casos de doença meningocócica por ano no mundo, com cerca de 50 mil óbitos. É uma doença de evolução rápida e com alta letalidade, que varia de 7% até 70%. Mesmo em países com assistência médica adequada, a meningococcemia pode ter uma letalidade de até 40%. Geralmente, acomete crianças e adultos jovens. No entanto, em situações epidêmicas, a doença pode atingir pessoas de todas as faixas etárias.


Transmissão

O ser humano é o único hospedeiro natural da N. meningitidis. Cerca de 10% dos adolescentes e adultos são portadores assintomáticos da bactéria na orofaringe (garganta) e podem transmiti-la mesmo sem adoecer. Esse processo se dá pela secreção respiratória (gotículas de saliva, espirro, tosse, etc.). Habitualmente, após a transmissão, a bactéria permanece na orofaringe do indivíduo receptor por curto período e acaba sendo eliminada pelos próprios mecanismos de defesa do organismo. Desta forma, a condição de portador assintomático tende a ser transitória, embora possa se estender por meses.
Em menos de 1% dos indivíduos infectados, contudo, a bactéria consegue penetrar na mucosa respiratória e atingir a corrente sanguínea levando ao aparecimento da doença meningocócica. A invasão geralmente ocorre nos primeiros cinco dias após o contágio. Os fatores que determinam o aparecimento da doença invasiva ainda não são totalmente esclarecidos.


Manifestações

A doença meningocócica tem início abrupto e evolução rápida, podendo levar ao óbito em até 48 horas. As manifestações iniciais da meningite são:
· febre alta;
· prostração;
· dor de cabeça;
· vômitos;
· aparecimento na pele de pequenas manchas violáceas (petéquias) que inicialmente são semelhantes às picadas de mosquitos, mas que rapidamente aumentam de número e de tamanho;
· dor e dificuldade na movimentação do pescoço (rigidez de nuca).
Em crianças com menos de um ano de idade, as manifestações da meningite podem ser mais inespecíficas, como febre, irritação, choro constante e abaulamento da fontanela (“moleira”) sem rigidez de nuca.
Se não for rapidamente tratada com antibióticos, a doença pode evoluir com confusão mental e coma.
A meningococcemia é a forma mais grave de apresentação da infecção pela N. meningitidis e as manifestações iniciais são semelhantes às da meningite, excluindo-se a rigidez de nuca.
O maior risco da doença meningocócica é a evolução rápida para o choque (diminuição acentuada da pressão arterial), o que resulta em funcionamento inadequado de órgãos vitais (rins, coração e pulmão) e morte. Cerca de 20% dos casos apresentam meningococcemia sem meningite, que tem letalidade próxima a 70% em países em desenvolvimento.


Medidas de proteção individual

De todas as doenças infecciosas, a doença meningocócica é uma das que causam maior impacto na população, pelo seu potencial de acometer de forma rápida e fulminante pessoas previamente saudáveis, na sua maioria crianças, e pelo risco de desencadear epidemias. A falta de informação adequada associada ao sensacionalismo oportunista colabora para aumentar o pânico da população e não contribui para o controle efetivo da doença. Algumas medidas, adotadas com alguma freqüência por motivos não muito claros, como fechamento de escolas e emergências e desinfecção de ambulâncias, são tecnicamente inadequadas, pois a bactéria não sobrevive no ambiente. Além disso, são totalmente ineficazes para evitar ou controlar epidemias de doença meningocócica e, claramente, causam transtornos e prejuízos inclusive ao próprio atendimento médico à população.

O risco de doença meningocócica é mais significativo nos casos em que a pessoa teve contato muito próximo com outra infectada (portadora assintomática ou doente). Quando se detecta um novo caso (doente), admite-se que entre seus contactantes próximos, possam existir um ou mais portadores assintomáticos e, eventualmente, um outro indivíduo susceptível, que, à semelhança do doente já identificado, venha a adoecer gravemente.

A prevenção imediata da ocorrência de novos casos é feita através do tratamento profilático com antibióticos (quimioprofilaxia) de todos os contactantes próximos do indivíduo doente, visando à eliminação da bactéria da nasofaringe dos portadores.

A definição de contactantes próximos pode ser variável de um país para outro, e a identificação desses indivíduos, em geral, não é tarefa fácil e depende de uma investigação epidemiológica adequada. Não é incomum que todos os conhecidos de um indivíduo com doença meningocócica se julguem contactantes próximos e desejem receber quimioprofilaxia. Porém, a utilização da quimioprofilaxia em massa, além de não ter impacto no controle da doença, não é isenta de riscos, pois os antibióticos utilizados para a profilaxia podem, eventualmente, estar associados a efeitos colaterais ou induzir ao aparecimento de cepas bacterianas resistentes.

A quimioprofilaxia, quando indicada, deve ser iniciada o mais precocemente possível, de preferência nas primeiras 24 horas, pois a chance de um indivíduo evoluir com doença invasiva é maior nos primeiros cinco dias após a infecção.

A eficácia da quimioprofilaxia, quando feita adequadamente, é 95%. Portanto, mesmo os contactantes que receberam a quimioprofilaxia podem vir a adoecer e devem estar atentos para o aparecimento dos primeiros sintomas, pois o retardo no início do tratamento implica em maior letalidade.

Durante epidemias ou surtos, a quimioprofilaxia é recomendada apenas para os contactantes próximos. Nessa situação, deve ser considerada a utilização da vacina como medida profilática. Cabe aos serviços de vigilância epidemiológica a identificação precoce de surtos e epidemias e a definição da população-alvo para a vacinação.

A maioria das vacinas disponíveis contra a doença meningocócica é constituída por antígenos polissacarídicos da cápsula da bactéria e confere proteção por tempo limitado (cerca de três anos) e exclusivamente para os sorogrupos contidos na vacina, com reduzida eficácia em crianças de baixa idade (particularmente abaixo de 2 anos).

No Brasil, as vacinas antimeningocócicas estão disponíveis na Rede Pública apenas em situações de surto e epidemias.


Definição de contactante próximo

· pessoas que residem no mesmo domicílio do doente;
· indivíduos que compartilharam o dormitório com o doente nos últimos sete dias;
· contactantes de creche e jardim de infância (professoras e crianças) que dividem a mesma sala;
· todas as pessoas que tiveram contato com a saliva do doente nos últimos sete dias (beijo; compartilhamento de alimentos e bebidas; divisão da mesma escova de dente; etc.);
· profissionais da área da saúde que realizaram procedimentos (entubação orotraqueal; exame de fundo do olho; passagem de cateter nasogástrico; etc.) sem utilização de material de proteção adequado (máscara cirúrgica e luvas).
Compartilhe:

Voltar