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Maracatus de São Paulo: tradição pernambucana com sotaque paulista

O baque virado, manifestação tradicional do estado de PE, vem ganhando cada vez mais espaço e adeptos em terras paulistas
Por: Paula Brasileiro 10/02/2017 - 00:00 - Atualizado em: 10/02/2017 - 10:06
Paulistas vivenciam a tradição pernambucana com grupos de maracatu de baque virado
Paulistas vivenciam a tradição pernambucana com grupos de maracatu de baque virado

Batuqueiros e batuqueiras entram em formação com seus tambores devidamente afinados. À frente está a corte, com baianas, rei, rainha e lanceiros, entre outros personagens, dançando ao som das toadas. A cena poderia ser o retrato de uma apresentação no Carnaval do Recife, Pernambuco, mas é cada vez mais comum nas ruas circundadas por arranha-céus da cidade de São Paulo, assim como em alguns interiores paulistas. O maracatu de baque virado vem ganhando cada vez mais espaço nesta região do país, acumulando brincantes e grupos que, à sua maneira, reproduzem esta cultura nordestina.

A brincadeira popular chegou ao Estado em meados da década de 1990, por intermédio da explosão do movimento Manguebeat, criado pelo músico pernambucano Chico Science. Aos poucos, o gosto pela manifestação foi crescendo entre os paulistas e, hoje em dia, já são cerca de 20 grupos percussivos a brincar o maracatu por estas terras.

Eles se espelham nas nações tradicionais de Pernambuco como Estrela Brilhante do Recife, Porto Rico, Leão Coroado e Estrela Brilhante de Igarassu, entre outras. A ponte aérea São-Paulo/Recife já é rota estabelecida por muitos desses brincantes que vão ao berço da tradição conhecer de perto a experiência, assim como por pernambucanos, mestres e batuqueiros, que vêm a São Paulo ministrar oficinas e ensinar os fundamentos de seus maracatus.

Conexão São Paulo/Recife

A musicista Mônica Santos conheceu o baque virado em 2007. Durante bastante tempo, ela tocou no grupo Cia Caracaxá  e, depois, fundou o Arrastão do Beco-Música Percussiva Popular, inspirado nas nações pernambucanas Leão Coroado, Estrela Brilhante do Recife e Estrela Brilhante de Igarassu. O Arrastão do Beco foi extinto em 2015 mas, o amor de Mônica pelo 'baque' - como é chamado o batuque do maracatu - continua firme e forte. Ela acredita que a identificação dos paulistas com esta tradição se dá ao constante contato do Recife com São Paulo: "Penso que essa proximidade se deve à vinda dos mestres e às visitas dos batuqueiros e regentes das nações de Pernambuco".

Ela afirma que o trabalho desenvolvido em terras paulistas "exige dedicação": "Percebemos que é bem diferente observar um grupo tocando e uma nação tocando e, nesse caso, acho que cabe a palavra propriedade. Desenvolver qualquer cultura fora de seu berço é bem complicado. Penso que tem que ter vivência, trocar muito com os mestres". E, apesar dos inúmeros grupos e força do maracatu paulista, no carnaval - quando a manifestação vive sua apoteose - quase não se encontram batuqueiros em São Paulo: "O povo está todo, ou quase todo, concentrado em Recife nessa época".

Conexão Recife/São Paulo

Luiz Água, também entrou na ponte aérea e acabou ficando em terras paulistas. Batuqueiro, luthier e estudante de arquitetura, o pernambucano aportou em terras paulistas em 2010, para ministrar uma oficina de percussão e fixou moradia. "Acabei gostando do clima daqui, encontrei facilidade de trabalho e alguns amigos que curtem o maracatu. Voltei ao Recife para pegar minhas coisas e 'vim embora' pra cá", conta. Ele levou na bagagem o grupo Baque das Ondas, que trabalha os fundamentos da Nação Porto Rico.

Água garante se sentir acolhido em São Paulo e, também, honrado em poder levar sua cultura para outro lugar: "É gratificante divulgar nossas nações, não só o Porto Rico e o Encanto do Pina - das quais faço parte - mas também as demais, Leão da Campina, Estrela Brilhante do Recife, Estrela de Igarassu, e outras". O batuqueiro sinaliza que o fazer maracatu paulista é diferente do modo pernambucano:"No Recife existe uma hierarquia, tem o Mestre que agrega toda a responsabilidade. Aqui não, é muita gente pensando para fazer um grupo acontecer, mas acaba dando certo". Sobre preconceito, ele não nega sua existência mas revela que o carinho pelo Nordeste acaba sendo maior: "Boa parte dos paulistas acolhe todas as culturas e acaba se apropriando de algumas delas. Aqui tem uma galera que ama a nossa cultura."

 

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