Clicky

Selecione a cidade
4020-9734

Notícias › Educação


Libras: a palavra está nas mãos

Linguagem de sinais garante a inclusão de pessoas com deficiências auditivas em diferentes espaços
Por: Katarina Bandeira 02/10/2018 - 08:41 - Atualizado em: 02/10/2018 - 08:42

Desde os primeiros segundos de vida emitimos e ouvimos sons. O choro do bebê ao nascer, as primeiras palavras, as músicas de ninar, os desenhos na televisão, a voz dos nossos entes queridos. Por meio deles surgem os significados de tudo o que nos rodeia. Aprendemos com os sons a dizer o que queremos, vemos e não estamos interessados. Porém, nem todo mundo tem o privilégio de conhecer as palavras da mesma forma que aqueles que conseguem escutar. De acordo com o Ministério da Educação, no Censo Escolar de 2016, o Brasil registrou, na educação básica, 21,9 mil estudantes surdos, 32 mil com deficiência auditiva e 328 alunos com surdocegueira.

Libras não é mímica

Segunda língua oficial do país desde 2012, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é essencial para a inclusão de  pessoas com deficiências auditivas. A falta de intérpretes para atividades cotidianas, porém, é uma das dificuldades encontradas pela comunidade surda. Para a professora Danielle Fernanda Leal a linguagem de sinais deveria ser obrigatória em qualquer profissão. “Em qualquer carreira que você escolha seguir você pode, um dia, vir a ter que lidar com um deficiente auditivo. Então, como é que você vai se comunicar com esse surdo de maneira clara se você não souber Libras?”, questiona a professora.

E não vale confundir Libras com mímica, uma vez que a primeira é um conjuntos de elementos visuais, que encontram e definem relações entre sinais para a criação da imagem mental, enquanto a outra é uma pantomima. “Alguns surdos não são alfabetizados, justamente pela dificuldade de ensino que existe para eles, então nem sempre a escrita vai funcionar. Além disso, a mímica pode ser um tanto confusa para ambos (você e a pessoa surda) e deixar margem para algum mal entendido”, reforça.

Mas então, o que é a linguagem de sinais?

Muito mais do que gestos feitos para indicar objetos e ações, a língua de sinais tem características próprias com aspectos linguísticos como morfologia, sintaxe e pragmática. Ela se diferencia do português, que tem sua sonoridade específica, porque - ao invés de sons - é composta por um conjunto de expressões e movimentos percebidos pela visão.

Apesar disso ela não é universal. Como cada país tem seu idioma, cada comunidade tem sua própria linguagem. No Brasil, a Libras é derivada da Língua de Sinais Francesa (LSF), que chegou ao país por em 1857, por um professor francês, que participou da fundação da primeira escola brasileira para surdos do país. Ao longo dos anos a linguagem foi adaptada e fundida à língua nacional com sinais já utilizados informalmente pelos brasileiros.

Todos estão surdos

Mesmo com o aumento de políticas inclusivas para surdos, como a adesão de disciplinas - mesmo que eletivas - de libras em cursos superiores e a obrigatoriedade da matrícula em escolas de educação básica, muitos ainda sofrem com a falta de aprendizado e o silêncio das mãos. “Um surdo, como qualquer outro ser humano, pode vir a precisar de um atendimento médico ou ir num restaurante e querer pedir um prato e trocar o arroz por macarrão, por exemplo. É muito importante que a gente consiga se comunicar com eles. Imagine se você vivesse num país em que a maioria das pessoas não sabe falar sua língua?”, indaga Danielle.

Ela também conta que, mais do que poder se comunicar com qualquer pessoa, uma das coisas que a fez se interessar em aprender Libras foi a vivência com alunos que tinham deficiência auditiva. “Você se dá conta que os surdos gostam das mesmas coisas que a gente, dançam, namoram, têm uma vida normal, com exceção das dificuldades que eles costumam passar” e reforça que o aprender a linguagem de sinais ajuda a coibir a discriminação.  “Ouvi histórias de uma adolescente que quase apanhou na escola pelo simples fato de ser surda, de um rapaz que vivia em uma família que ninguém sabia falar Libras e que a própria mãe o discriminava ele chamando ele de mudinho. É preciso que essas pessoas consigam se comunicar”, finaliza.

Comentários