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Autismo: falta de informação ainda é uma barreira a ser quebrada

Preconceito e desconhecimento sobre o transtorno são os principais desafios para os autistas
Por: 02/04/2020 - 20:40
"Por termos um déficit no entendimento, as pessoas já nos chamam de doido", desabafa Carlos Nascimento, de 39 anos. Ele afirma que sempre se sentiu diferente dos demais, gostava mais de ficar só, um cara de poucos amigos. Em 2018, seu filho, de um ano na época, foi diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com a revelação, Carlos também passou por uma avaliação e descobriu, após 38 anos, que também possuía a doença. "Foi aí que eu vi que tudo fazia sentido", comentou.
 
Carlos e seu filho fazem parte dos 2 milhões de brasileiros diagnosticados com autismo no País, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesta quinta-feira (2), é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O transtorno autista pode se manifestar em três níveis, sendo de leve, moderado e grave. Os sintomas vão desde a dificuldade de comunicação e interações sociais à hiperatividade e agressão. Carlos foi diagnosticado com o grau 1 da doença, o mais leve. No entanto, isso não o impede de ter dificuldades no convívio em sociedade. A falta de empatia e o preconceito o fez desistir de sua graduação em direito.
 
"Muitos dos meus companheiros de aulas falavam: 'ah, esse cara é louco, ele não entende nada'. Eu sempre falava que eles precisavam ser bastante claros e diretos na comunicação. Eu preferi desistir pelo constrangimento que estava passando naquele momento", relata.
 
O descobrimento do transtorno motivou Carlos a ajudar seu próprio filho e outros autistas desamparados da Região Metropolitana do Recife (RMR). Ele criou o projeto ‘Autismo Compartilhar Solidariedade’. O movimento conta com diversos profissionais de saúde voluntários e especializados no tratamento da doença e fornece suporte a 12 crianças e jovens que sofrem do transtorno. Em pesquisa divulga nessa quarta-feira (1º), o Instituto de Educação e Análise do Comportamento (IEAC) revelou que a maioria das famílias com um integrante autista está inserida na classe D e possui renda familiar mensal de até R$ 1.874. Muitas vezes, em condições vulneráveis, estas pessoas não conseguem pagar por uma ajuda profissional e não são acolhidas pela rede pública.
 
Lucinette Lima, 52 anos, é uma das pedagogas voluntárias do projeto. Além do acompanhamento infantil, ela destaca que o tratamento em pessoas que descobriram a doença tardiamente se faz necessário. "É importante o atendimento especializado e as terapias por toda a vida de um autista, porque ele tem dificuldades em se comunicar e se relacionar, fugindo do padrão convencional. No projeto, trabalho com jovens ajudando-os a enfrentar as demandas da escola e nas academias adaptando conteúdos, e orientando nas atividades necessárias ao convívio social da sala de aula", explica a profissional.
 
Se mostrando orgulhoso com o que construiu e buscando aprimorar o projeto, Carlos mantém a esperança de ajudar pacientes que, assim como ele, podem conviver em sociedade e buscam por empatia. "Para nós, por exemplo, é difícil conseguir um emprego, porque nas entrevistas o selecionador, querendo ou não, percebe certas dificuldades. (Com o projeto) esperamos ajudar essas pessoas a melhorarem", comenta.

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